quinta-feira, 21 de julho de 2011

Distintivos da Visão Celestial Atos 26:14-19

 ...não fui desobediente à visão celestial.

                        Introdução
            Saulo de Tarso, um homem extremamente religioso em uma busca inconsciente pela verdade; na aparência, um possuidor da verdade, mas no íntimo, um desesperado pela verdade, que não encontrava paz na religião judaica e no legalismo da seita dos fariseus, na qual era um eminente doutor. O conhecimento teológico do sábio Gamaliel não pôde preencher o vazio existencial de Saulo, tão pouco seu prestígio ante as autoridades religiosas da época, nada parecia poder saciar a sede deste zeloso buscador da verdade. Saulo, então, empreende sem perceber uma perseguição insana e mortal contra a Verdade, sim, Saulo se tornou o maior perseguidor de Jesus Cristo e seus discípulos; ele não podia admitir que alguém se insurgisse contra a “visão de Moisés”, pois esta era a única “verdade” que ele possuía. Foi exatamente nesse momento crítico que Paulo, tendo seu zelo sem entendimento no seu ápice, que ele abrange sua caçada implacável à Cristo nas terras de Damasco, e justamente em sua trilha de perseguição, a Verdade o encontra. Sim, Saulo é ofuscado e envolvido por uma luz mais radiante que a alva do dia, e nela se manifestou a Verdade suprema, Jesus Cristo (Jo 14:6).
            A visão de Saulo sobre fé, religião e verdade que estava baseada em Moisés, foi substituída pela visão celestial. É disso que todo ser humano na terra carece: da Visão Celestial.
            A visão celestial não é um devaneio mental ou utopia, mas sim o produto de uma espiritualidade madura.
            A visão celestial não é uma construção filosófica ou teológica humana, mas sim uma revelação de origem divina.
            A visão celestial não é produto de uma megalomania egoísta, mas sim a revelação dos propósitos divinos que glorificam Seu Nome.
            A visão celestial é o divisor de águas em sua vida.
            A visão celestial é a revelação de seu destino ministerial.
            A visão celestial é a chamada divina para sua vida.
            No livro de Atos dos Apóstolos há três narrativas da experiência de Saulo: A primeira é a narrativa do autor do livro, Lucas (At 9:1-9), a segunda é o discurso de Paulo em sua defesa perante os judeus em Jerusalém (At 22:1-16), e a terceira é a defesa de Paulo perante o rei Agripa (At 26:1-19). A visão de Saulo, não fui sua visão, mas a Visão Celestial, que num sentido espiritual é singular e possui algumas características distintivas:




1-      A Visão Celestial é Irresistível
...Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões” (v. 14b)

            Desde que liderou e contemplou o martírio do diácono Estevão, Paulo já andava perturbado, e duas questões em especial turbavam seus pensamentos, a primeira questão era: porque aquele jovem morreria por aquela fé? A segunda era: Porque ele demonstrou compaixão por seus algozes? A partir dessas inquietações, o Espírito Santo de Deus, que também é o Espírito de Cristo, começou seu processo para convencer Saulo, porém, a mente Saulo era uma fortaleza de filosofias, religiosidade e orgulho, então, mesmo sendo atraído pelo poder do evangelho ele relutava agonizantemente em si mesmo e continuava se opondo e perseguindo a verdade. Saulo era um “boi religioso” lutando contra os espetos afiados dos aguilhões da soberania de Deus. O salmista escreveu: “Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio, para que se não atirem a ti.” (Sl 32:9). Indignado com a resistência de seu povo Deus fala através do profeta Isaías: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, a manjedoura do seu dono, mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende.” (Is 1:3).
            Alguns crentes estão feridos e vivem em um constante vazio existencial por saberem em seu íntimo qual a vontade de Deus, porém não a fazerem. Deus vê tal comportamento como uma verdadeira irracionalidade, pois resistir ao chamado de Deus é prolongar conscientemente o sofrimento e a angústia. Quanto mais Saulo lutava contra a verdade, que é Cristo, mais ele sofria interiormente, assim, Jesus estava dizendo: “Para você é cada vez pior se debater para fugir do caminho que eu lhe determinei”. A chamada de Deus é irresistível. Moisés não pôde resistir (Êx 3-4), O fazendeiro Amós não pôde resistir (Am 7:14-15), Jeremias não pôde resistir (Jr 1:4-9; 20:7-9).
            Em suma, enquanto triunfamos em nossas realizações pessoais e em nossos próprios projetos, somos espiritualmente frustrados e derrotados, mas, quando nos deixamos vencer pela vontade de Deus triunfaremos. Precisamos ser derrotados por Deus em nosso “eu” e parar de tentar resistir à Visão Celestial.

2-      A Visão Celestial é Singular
...Eu sou Jesus...” (v. 15b)

A visão celestial não divide sua grandeza com nada e com ninguém. “Eu Sou” revela a singularidade do Ser Divino. Foi assim que Deus se revelou a Moisés, como o “Eu Sou o que Sou”. A verdadeira visão celestial revela a imparidade de Deus como Àquele que É tudo o que precisamos. O teólogo contemporâneo alemão Paul Tillit diz: “Deus não existe, Deus é”, com isso ele quer dizer que a existência é um aspecto filosófico muito limitado para definir o Ser de Deus. Em sua escrita original, quando Deus disse à Moisés: “Eu sou o que sou”, ele estava dizendo literalmente: “Eu sou o que você precisar que eu seja”, assim, os nomes de Deus revelam seu caráter e sua obra. Jeová Rafá, o Senhor que sará; Jeová Jireh, o Senhor proverá; Jeová Shalom, o Senhor é nossa Paz; Jeová Raáh, o Senhor é nosso Guia; Jeová Tsidikenu, o Senhor é nossa Vitória. Deus jamais ostentou um nome que o definisse, até que se humanizou na pessoa de seu Filho, então, toda a essência da identidade divina compactou-se em um único nome: JESUS. Sua obediência, humildade e renunciar lhe legaram um nome acima de todos os nomes, e é diante desse nome que todos se sujeitarão (Fl 2:5-11). Jesus se revelou como o grande “Eu Sou”, especialmente no Evangelho segundo o apóstolo João.
Jesus Cristo é singular. Ele declarou: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6:48); “Eu sou a luz do mundo” (); “Eu sou a porta” (Jo 10:7); “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10:11); “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11:25)“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6).
A verdadeira Visão Celestial exalta a singularidade de Cristo como Salvador. Em sua pregação o apóstolo Pedro declarou: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (At 4:12). Não há salvação em Buda; não há salvação em Confúcio; não há salvação em Maomé.
A verdadeira Visão Celestial exalta a singularidade de Cristo como Mediador. Paulo já convertido escreveu ao jovem pastor Timóteo: “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem.” (I Tm 2:5). Maria não pode interceder por nós, nenhum apóstolo pode interceder por nós, os santos que morreram não podem interceder por nós. A voz que se revela na verdadeira Visão Celestial não diz “Eu sou Moisés”, nem “Eu sou Elias”, nem “Eu sou Maria”, nem “Eu sou Estevão”; a voz da Visão Celestial disse: EU SOU JESUS. A Visão Celestial é singular.

3-      A Visão Celestial tem Propósito
...te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha.” (v. 16a)

            Muitos neste século afirmam terem recebido revelações e visões celestiais, porém, estas pseudo-visões celestiais se mostram absolutamente sem nenhum propósito relevante ou nobre. Algumas dessas visões parecem somente exaltar o visionário e torná-lo alguém maior do que realmente é. É difícil acreditar em pessoas que vão ao céu ou ao inferno em arrebatamentos de sentido, e quando voltam ficam ricos e famosos ao produzirem CD`s e DVD`s de sua “experiência metafísica”.
            A Visão Celestial tem propósito, e não é o de produzir “magastars do cristianismo”, seu propósito é claro: estabelecer ministros e testemunhas. Em sua escrita original, ministro significa “servo” e testemunha significa “mártir”, assim, a concepção moderna de ministros do evangelho, de glamour e status cai por terra diante do verdadeiro propósito da Visão Celestial que é levantar homens que estejam dispostos a servir o próximo e morrer pela causa de Cristo. Se a nossa visão diz respeito ao nosso sucesso ou às nossas realizações pessoais, então ela pode ser tudo, menos celestial.
            Jesus apareceu para Saulo, para que ele renunciasse seus projetos pessoais pelo Reino, para servir e morrer.  

4-      A Visão Celestial é Progressiva
...das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda.” (v. 16b)

            Nós somos limitados. A mente humana não tem a capacidade de absorver a totalidade da revelação divina, por isso, Deus se revela a nós gradualmente, num relacionamento progressivo.
            Se Deus revelasse todo o projeto da carreira ministerial de Paulo, sua ansiedade colérica o faria sucumbir. É por isso que “em parte conhecemos e em parte profetizamos” (); profetizamos o que conhecemos agora, e profetizaremos o que conheceremos amanhã.
            Precisamos não somente descobrir o que somos em Cristo, mas o que Cristo é em nós, e para tanto, somos submetidos por Deus a um processo de transformação gradual efetuado pelo Espírito de Cristo; Paulo escreve: “Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” (I Co 3:18).
            O grande mistério da justiça que provém de Deus somente nos é revelado, também através de um processo, pois a justiça do tipo humana é totalmente desprezível para Deus em relação à graça manifestada na cruz (Is 64:6), e a verdadeira justiça é revelada gradualmente pela fé. “Porque nele [em Jesus] se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.” (Rm 1:17). Porque o caminho do justo “é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4:18).
            Abraão recebeu a Visão Celestial que o comissionou para o plano de Deus (Gn 12:1-3), depois, recebeu mais detalhes da Visão (Gn 15:1-12), porém, se precipitou e atropelou o plano perfeito (Gn 16:1-4).
Deus se revelou a nós no início da caminhada, mas o restante do projeto ele revela no caminho, é por isso que não podemos soltar a mão Dele. Muitos recebem a visão um dia, mas se enveredam por caminhos alternativos e pessoais, por isso perdem o foco e perecem. Precisamos perseverar na Visão do início, para que possamos receber novas instruções quando Ele assim desejar. O conhecimento de Deus não é um evento, e sim uma construção. “Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor...” (Os 6:3a).
            Paulo recebeu outras revelações, mas permaneceu na primeira Visão. Perseveremos na primeira Visão, pois novas revelações estão por vir. Aleluia!

5-      A Visão Celestial é Libertadora
...te envio, para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás à Deus.” (v. 18)

Saulo era um escravo de sua religiosidade, um cativo de sua própria intelectualidade estéril; em seu zelo sem entendimento pela “verdade” ele foi aprisionado por um terrível vazio que o assolava, mas a Visão Celestial o libertou. A Visão Celestial nos liberta da incerteza existencial e do medo da eternidade, assim, o primeiro a ser liberto pela Visão Celestial é o visionário. Porém a abrangência do caráter libertador da Visão não é apenas pessoal. Deus nos dá a Visão Celestial para nos tornarmos libertadores.
A Visão Celestial nos comissiona a ir e libertar. “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios...” (Mt 10:8a).
O mundo está sob a opressão do Inimigo, e a Igreja está credenciada pela Visão Celestial para libertar a humanidade cativa (Mc 16:17; Lc 10:19).
Satanás cegou o entendimento dos homens que não crêem, para que a luz do evangelho lhes não resplandeça (II Co 4:3-4), mas a Visão Celestial do Evangelho tem poder para libertar (Rm 1:16).
A Visão Celestial fez de Paulo um poderoso libertador, e isto transformou a cidade grega de Filipos (At 16:16-40).
A Visão Celestial que Deus nos deu libertará nossas mentes, nossas famílias, nossos amigos...
A Visão Celestial é libertadora.
Em uma geração marcada por pseudo-revelações gnósticas, precisamos receber de Deus e conhecer a Visão Celestial. Todos nós precisamos da Visão Celestial.

ESBOÇO DO SERMÃO:

MARCAS DISTINTIVAS DA VISÃO CELESTIAL
Conferencista Enéas Ribeiro
Atos 26:14-19
...não fui desobediente à visão celestial.

                Introdução
Não é um devaneio mental ou utopia, ou seja, é produto de uma espiritualidade madura;
Não é uma construção filosófica ou teológica humana, ou seja, é uma revelação de origem divina;
Não é produto de uma megalomania egoísta, ou seja, é a revelação dos propósitos divinos que glorificam o Seu Nome.
A visão celestial é o “divisor de águas” em sua vida.
A visão celestial é a revelação do rumo de seu destino.
A visão celestial é a chamada divina para sua vida.

1-       A VISÃO CELESTIAL É IRRESISTÍVEL
...Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.” (v. 14b)
i-                     Para Moisés foi irresistível (Êx 3-4)
ii-                   Para Amós foi irresistível (Am 7:14-15)
iii-                  Para Jeremias foi irresistível (Jr 1:4-9; 20:7-9)
iv-                  O grande Saulo perdeu...

2-       A VISÃO CELESTIAL É SINGULAR
...Eu sou Jesus...” (v. 15b)
i-                     A singularidade do Ser Divino (Êx 3:14)
ii-                   A singularidade de Cristo como Salvador (At 4:12)
iii-                  A singularidade de Cristo como Mediador (I Tm 2:5)
iv-                  JESUS assumiu o lugar do legalismo farisaico de Paulo...

3-       A VISÃO CELESTIAL TEM PROPÓSITO
...te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha...” (v. 16a)
i-                     Tem o propósito de estabelecer ministros (I Co 4:1)
ii-                   Tem o propósito de estabelecer testemunhas (At 1:8)
iii-                  Paulo, de influente e opressor para escravo e mártir...
iv-                  Paulo, muitas visões, mas uma só Visão.

4-       A VISÃO CELESTIAL É PROGRESSIVA
...das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda.” (v. 16b)
i-                     A revelação progressiva a Abraão (Gn 12:1-9)
ii-                   A imagem de Cristo de glória em glória (II Co 3:18)
iii-                  A justiça de Deus de fé em fé (Rm 1:17)
iv-                  O caminho do justo de brilho em brilho (Pv 4:18)

5-       A VISÃO CELESTIAL É LIBERTADORA
...te envio, para lhes abrires os olhos e das trevas os converteres à luz e do poder de Satanás à Deus...” (v. 18)
i-                     Das trevas para a luz...
ii-                   Do poder de Satanás à Deus...
Paulo foi liberto para se tornar um libertador

Línguas na Experiência Pessoal de Paulo

E Ananias foi, e entrou na casa, e, impondo-lhe as mãos, disse: Irmãos Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo...
Atos 8:18a

            O objetivo da imposição das mãos de Ananias em Saulo era que ele fosse cheio do Espírito Santo.
            Lucas não relata nenhuma manifestação da glossolalia neste episódio. É certo, no entanto, que o apóstolo Paulo, depois da experiência na casa do irmão Judas, na Rua Direita, Paulo falava em línguas regularmente e freqüentemente desde então. “Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos.” (1ª Co14:18). Se muitos teólogos tradicionais e céticos consideram as línguas inúteis, então porque o sábio e espiritual apóstolo Paulo era tão grato a Deus por esta preciosa dádiva. Acerca disso falaremos mais adiante.
            No livro de Atos dos Apóstolos a experiência de falar em línguas somente ocorre no momento do recebimento do Batismo no Espírito Santo, pois as línguas são a evidência marcante do mesmo. Parece, portanto, perfeitamente lógico que no exato instante da imposição de mãos do discípulo Ananias, Paulo foi batizado no Espírito Santo com a evidência do falar em línguas.
            Paulo desfrutava de uma singular comunhão com o Espírito Santo através da oração, especialmente da oração em línguas. Tal comunhão estava refletida em seu profundo anelo por ver a Igreja desfrutando desta intimidade com o Deus Trino, de sorte que Paulo ministrando a benção apostólica aos crentes da Igreja em Corinto expressou: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com vós todos. Amém!” (2ª Co13:13). A sublime graça de Jesus Cristo já se manifestou em seu ministério aos homens, Deus Pai já revelou a grandeza de seu inexplicável amor ao enviar seu único Filho para morrer por nós, mas a comunhão do Espírito Santo se manifesta hoje para a Igreja, na dispensação da graça, para que todo filho de Deus possa gozar de estreita e íntima comunhão com a Divindade por sua terceira maravilhosa Pessoa. Paulo queria que a comunhão do Espírito Santo fosse uma realidade plena e constante para os crentes, pois ele mesmo desfrutava desta dádiva graciosa.
            Preste muita atenção! O segredo da intimidade de Paulo com o Senhor era justamente sua vida singular de oração, que incluía longos períodos de oração em línguas. Além disso, através da oração em línguas Paulo recebeu as mais profundas revelações doutrinárias que o nutriram espiritualmente para escrever suas treze cartas e desvincular a fé cristã do judaísmo ortodoxo. Aliás, todo conhecimento espiritual de Paulo não teve nenhuma espécie origemacadêmica; ele mesmo considerou todo seu conhecimento intelectual e religioso como esterco (Fl 3:8); sua ciência espiritual também não foi adquirida através de ensinos de homens, mas por revelação direta de Jesus Cristo (Gl1:11-12).
            Os escritos doutrinários de Paulo são notoriamente caracterizados por sua compreensão de mistérios espirituais que somente poderiam ser absorvidos por meios divinos, o próprio Paulo escreveu acerca disso: “pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas.” (Ef 3:4-5).
            A principal característica espiritual de Paulo era sua profunda compreensão e conhecimento dos tempos, os escritos paulinos revelam que ele não estava deslocado no tempo, tanto em relação à sua própria vida e ministério, quanto à dispensação dos tempos da Igreja. O Espírito Santo revelou a Paulo o tempo oportuno que Deus escolhera para restaurar todas as coisas em Cristo.

descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o beneplácito, que propusera em si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra.
Efésios 1:9-10

            Paulo está aqui declarando que o mistério da vontade agora está revelado à Igreja de forma tão clara e cristalina, como jamais esteve, nem mesmo nos tempos de profetas como Moisés e Elias. Ele escreve que esta soberana vontade de Deus sempre foi preparar uma ocasião ideal para a manifestação do Filho Deus, no qual todas as coisas seriam congregadas. Este “tempo perfeito” ou “chronos pleroma” era bem conhecido por Paulo, que depois de uma veemente exortação aos romanos sobre amor, vigilância e pureza, alertou: “E isto digo, conhecendo o tempo...” (Rm13:11).
            Outro aspecto em que Paulo estava profundamente instruído e preparado era com relação à batalha espiritual e o papel da Igreja do Senhor na mesma, e a grande chave desta visão profética sobre o reino espiritual era justamente a oração no Espírito (em línguas): “orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito...” (Ef6:18).
            Acerca da origem das revelações de Paulo na glossolalia estudaremos mais a frente em nosso seminário.


Extraído do Seminário GLOSSOLÁLIA - A Dádiva da Edificação Pessoal
Autor: Pr. Enéas Ribeiro

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O Modelo Apostólico de Despertamento Atos 2:42-47

Introdução
         A Igreja Primitiva cujo relato histórico consta no Livro dos Atos dos Apóstolos nos fornecem um referencial de despertamento espiritual para todas as gerações, inclusive a nossa.
        
1-    SEIS ÁREAS DE DESPERTAMENTO:
i-                   Despertar para a perseverança na doutrina (v. 42 a)
ii-                Despertar para a comunhão (v. 42 b)
iii-              Despertar para as orações (v. 42 c)
iv-              Despertar para o temor (v. 43)
v-                Despertar para a unidade de propósito (v. 44)
vi-              Despertar para a perseverança no templo (v. 46)

2-    SEIS RESULTADOS DESTE DESPERTAMENTO:
i-                   Sinais e maravilhas (v. 43)
...e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.

ii-                Provisão e suprimento (v. 45; 4:34, 35)
Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha.

iii-              Reuniões alegres e sinceras (v. 46 b)
...comiam juntos com alegria e singeleza de coração.

iv-              Vida de louvor constante (v. 47 a)
Louvando a Deus...

v-                Simpatia da comunidade (v. 47 b)
...caindo na graça de todo o povo...

vi-              Crescimento numérico constante (v. 47 c)
...E todos os dias acrescentava o senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.

O Verdadeiro Avivamento Neotestamentário

Introdução
         Muitos movimentos estranhos têm surgido com nome de avivamento, porém, não primam pelo biblicismo do Novovo Testamento. O que realmente carecemos hoje é de um avivamento nos moldes apostólicos da Nova Aliança.

1-    EM QUE MOMENTO A IGREJA DEVE ENTENDER QUE
PRECISA DE UM AVIVAMENTO:
i-                   Quando é mais fácil ficar em casa do que ir aos cultos (II Tm 2:4; Sl 122:1) “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor.

ii-                Quando é mais fácil ler jornal do que ler a Bíblia (Sl 1)
Antes, tem o seu prazer na lei do Senhor e na sua lei medita de dia e de noite.

iii-              Quando é mais fácil dormir do que ouvir a pregação (Ef 5:14)
Pelo que diz: Desperta, tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá.

iv-              Quando é mais fácil ficar do lado de fora do que entrar no templo (Sl 27:4) “Uma coisa pedi ao Senhor e a buscarei: que possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a formosura do Senhor e aprender no seu templo.

v-                Quando é mais fácil murmurar do que orar em favor (Mt 5:44) “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.

vi-              Quando é mais fácil pedir remédio do que pedir oração com fé (Mc 16:17, 18; Tg 5:14, 15) “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com azeite em nome do senhor; E a oração da fé salvará o doente, e o senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados.

vii-           Quando é mais fácil se render á carne do que se render ao Espírito Santo (Gl 5:16, 25) “Digo, porém, Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne [...] Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito.

2-    CONDIÇÕES PARA QUE HAJA AVIVAMENTO:
i-                   Separação do mundo (I Jo 2:15)
Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.

ii-                Desapego material (I Tm 6:8)
Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.

iii-              Santificação moral (I Co 6:19-20)
Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.

iv-              Arrependimento genuíno (Pv 28:13)
O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.

v-                Busca por espiritualidade mais profunda (Jr 29:13)
E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração.

vi-              Adoração fervorosa (Rm 12:11; Sl 29:9 b)
Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor [...] E no seu templo cada um diz: Glória!

vii-           Priorização ao Reino de Deus (Mt 6:33)
Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.

terça-feira, 19 de julho de 2011

O PENTECOSTALISMO NO CONTEXTO DA SEGREGAÇÃO RACIAL

INTRODUÇÃO

                É impossível falar do Movimento Pentecostal sem uma abordagem histórica e cultural do contexto em que teve seu início explosivo, e o pano de fundo desse grande avivamento da Igreja, foi o período da segregação racial nos Estados Unidos. Negros e brancos estavam divididos pela política segregada da nação, além da forte oposição também preconceituosa pelos imigrantes hispânicos. Início do século XX, foi nesse contexto berrante de racismo que surgiu um líder disposto a clamar por um despertar espiritual para a Igreja do Senhor, especialmente para sua própria vida. William Seymour, um filho de ex-escravos negros após um poderoso discipulado com Charles Fox Parhan, passou a ensinar e buscar o batismo no Espírito Santo com a evidência bíblica do falar em línguas estranhas, dando início à Missão Evangélica da Fé Apostólica na lendária Rua Azuza.
 
A-     UM MOVIMENTO DE ORIGEM AFRO-AMERICANA

Não há como negar que a espiritualidade afro-americana caracterizou a cultura pentecostal como conhecemos hoje, e até mesmo a natureza emocional das manifestações ocorridas no galpão da Rua Azuza 312. Vale ressaltar que elementos cruciais do movimento pentecostal como sua liturgia espontânea e sua musicalidade extremamente alegre, tiveram profunda influência da diversificada cultura africana. Diferentemente dos escravos que “migraram” para o Brasil, por exemplo, aos escravos nos Estados Unidos não era permitido nenhum tipo de instrumento de percussão que pudesse se tornar arma, assim, os negros desenvolveram formas de musicalidade e expressão corporal que manifestassem suas emoções e sentimentos, dando origem a ritmos como o blues, e no contexto cristão dos escravos convertidos às primeiras formas do gospel afro-americano. O fato é que a credulidade e espiritualidade dos afro-descendentes deixaram sua marca latente nos pentecostais em todas as épocas.

B-      A NATUREZA INCLUSIVA DO MOVIMENTO PENTECOSTAL

O que mais contribuiu para tornar o movimento pentecostal alvo de perseguições, tanto por parte da comunidade como da imprensa de Los Angeles na época, foi justamente este “mix” de raças e culturas que manifestavam sua “nova” espiritualidade e um antigo estábulo abandonado. O antagonismo maior se dava pela liberdade de culto e até liderança por parte especialmente de três classes: negros, hispânicos e mulheres. Na Missão da Rua Azuza, mulheres já tinham seu espaço muito antes de conquistarem o direito de votar nos EUA, elas tiveram significativa importância no crescimento do movimento, além disso, muitos mexicanos e califórnios exerceram poderosos ministérios evangelísticos. Porém, o destaque maior pertencia indubitavelmente aos negros, que pareciam estar recebendo de Deus os “juros” pelos anos de escravidão e morte. O pastor e líder do movimento, o afro-americano William J. Seymour se tornou uma das figuras mais importantes da história do cristianismo.

C-      O PRIMEIRO CISMA NO PENTECOSTALISMO MUNDIAL

A primeira denominação pentecostal oficial da história foi a Church Of God In Christ (Igreja de Deus em Cristo), fundada e liderada pelo Bispo afro-americano Charles Harrison Mason. Era uma igreja predominantemente de negros, embora com muitos brancos e hispânicos. Por ser a única denominação legalizada e apta para fornecer licenças para pregar e abrir igrejas, era vantajoso para ministros de todas as raças. Mas, devido à severa segregação racial nos Estados Unidos naquela época, aproximadamente trezentos pastores brancos, já com suas licenças ministeriais, não quiseram mais ser liderados por bispos negros, e se desligaram da COGIC reunindo um conselho no ano de 1914 em Hot Springs formando aquela que conhecemos como a querida Assembléia de Deus, que teve sua expansão maior no Brasil. Aliás, vale ressaltar um registro histórico: “Vingren indagou a respeito da questão (do novo nome da denominação que até então era a Missão da Fé Apostólica) e informou que nos Estados Unidos haviam adotado o nome Assembléia de Deus ou Igreja Pentecostal. Houve unanimidade em torno do primeiro nome mencionado. Em 11 de Janeiro de 1918, o título Assembléia de Deus foi oficialmente registrado...” AS ASSEMBLÉIAS DE DEUS NO BRASIL – Sumário Histórico Ilustrado, pag. 59. Assim, o centenário da denominação Assembléia de Deus ocorrerá em 11 de Janeiro de 2018, e o centenário da primeira denominação pentecostal registrada (COGIC), se deu 1997. A COGIC foi organizada em 1907, porém, fundada em 1897. O primeiro grande cisma no Movimento Pentecostal foi, portanto, o desligamento da Igreja de Deus em Cristo por parte de alguns líderes, para a formação da primeira Assembléia de Deus (1914).

D-     UM DOS GRANDES PRECURSORES DO MOVIMENTO ANTI-SEGREGACIONISTA

Evidentemente quando falamos de movimento anti-segregacionista e direitos civis dos negros, nosso entendimento histórico logo nos reporta ao líder negro Martin Luther King Jr., e nada poderia ser mais justo, haja vista que o investimento de vida desse líder batista foi o fim da segregação racial na América e a revisão dos direitos civis. Porém, muito antes do ativista Luther King se manifestar sobre essa questão, no início do século XX, o fundador da Igreja de Deus em Cristo já fomentava o conceito de unidade das raças, e por vezes foi preso por difundir tais princípios. Em sua simplicidade ele propôs uma parábola que se tornou histórica; ele dizia que se faltar ou a parte branca ou a parte negra dos olhos, não poderemos enxergar. Nas reuniões alegres da COGIC, era comum ver brancos e negros cantando e dançando juntos (o que era inconcebível naquele contexto político). Um fato histórico interessante é que o último sermão de Martin Luther King, foi no templo Mason da COGIC em 1968, com o tema: “Eu estive no topo do monte, eu vi a terra prometida”. É importante ratificar que a Igreja de Deus em Cristo nunca foi e não é uma igreja de negros, é uma igreja de cultura afro-americana, porém de natureza inclusiva, com pastores e bispos negros e brancos, trabalhando juntos.  

E-      A CONFRATERNIZAÇÃO HISTÓRICA ENTRE A IGREJA DE DEUS EM CRISTO E A ASSEMBLÉIA DE DEUS

Em 1994, após anos de separação racial entre negros e brancos da Igreja de Deus em Cristo e da Assembléia de Deus, ocorreu o chamado “Milagre de Memphis”, quando líderes da AD e da COGIC, representados pelo Superintendente Geral Tomas E. Trask e pelo Bispo Geral Charles E. Blake respectivamente, se congregaram para uma reconciliação histórica. O Espírito de Deus se moveu sobre um dos pastores assembleianos para lavar os pés de um pastor negro, como forma de pedir perdão aos irmãos negros pelos anos de separação racial e perseguição, e pelo sangue derramado em função dessa divisão, além de honrar e a memória de William Seymour. A nobreza do ato inspirou o Bispo Charles Edward Blake (Bispo Sênior da COGIC) a manifestar reciprocidade e fazer o mesmo. Hoje, a Igreja de Deus em Cristo é a maior denominação pentecostal dos EUA, e a que mais cresce no mundo, juntamente com a querida Assembléia de Deus que também tem experimentado crescimento vertiginoso. Lamentavelmente, no Brasil, a história pentecostal parece inacessível e negligentemente omitida pelas grandes editoras com vínculo pentecostal, e os membros da COGIC devem conhecer sua própria história para difundi-la. Histórias como a de que o Bispo Mason foi um dos financiadores da viagem dos missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren à Belém do Pará, onde o pentecostalismo aportou e se expandiu com a Assembléia de Deus. A história deve ser honrada, e a Igreja de Deus em Cristo é pioneira na história do pentecostalismo.

CONCLUSÃO

Dada a importância histórica dessa primeira revista de Escola Bíblica da Igreja de Deus em Cristo no Brasil, não poderíamos deixar de abordar elementos históricos de nossa Igreja, que tem sua significação inexorável na teologia pentecostal e no pentecostalismo como movimento de Deus. Sinta-se orgulhoso por fazer parte de uma Igreja forte, bíblica e cheia do Espírito Santo, a Igreja de Deus em Cristo, a Igreja da santidade.
Extraído da Revista de Escola Cristã da COGIC R2
Autor: Pastor Enéas Ribeiro