Introdução
Saulo de Tarso, um homem extremamente religioso em uma busca inconsciente pela verdade; na aparência, um possuidor da verdade, mas no íntimo, um desesperado pela verdade, que não encontrava paz na religião judaica e no legalismo da seita dos fariseus, na qual era um eminente doutor. O conhecimento teológico do sábio Gamaliel não pôde preencher o vazio existencial de Saulo, tão pouco seu prestígio ante as autoridades religiosas da época, nada parecia poder saciar a sede deste zeloso buscador da verdade. Saulo, então, empreende sem perceber uma perseguição insana e mortal contra a Verdade, sim, Saulo se tornou o maior perseguidor de Jesus Cristo e seus discípulos; ele não podia admitir que alguém se insurgisse contra a “visão de Moisés”, pois esta era a única “verdade” que ele possuía. Foi exatamente nesse momento crítico que Paulo, tendo seu zelo sem entendimento no seu ápice, que ele abrange sua caçada implacável à Cristo nas terras de Damasco, e justamente em sua trilha de perseguição, a Verdade o encontra. Sim, Saulo é ofuscado e envolvido por uma luz mais radiante que a alva do dia, e nela se manifestou a Verdade suprema, Jesus Cristo (Jo 14:6).
A visão de Saulo sobre fé, religião e verdade que estava baseada em Moisés, foi substituída pela visão celestial. É disso que todo ser humano na terra carece: da Visão Celestial.
A visão celestial não é um devaneio mental ou utopia, mas sim o produto de uma espiritualidade madura.
A visão celestial não é uma construção filosófica ou teológica humana, mas sim uma revelação de origem divina.
A visão celestial não é produto de uma megalomania egoísta, mas sim a revelação dos propósitos divinos que glorificam Seu Nome.
A visão celestial é o divisor de águas em sua vida.
A visão celestial é a revelação de seu destino ministerial.
A visão celestial é a chamada divina para sua vida.
No livro de Atos dos Apóstolos há três narrativas da experiência de Saulo: A primeira é a narrativa do autor do livro, Lucas (At 9:1-9), a segunda é o discurso de Paulo em sua defesa perante os judeus em Jerusalém (At 22:1-16), e a terceira é a defesa de Paulo perante o rei Agripa (At 26:1-19). A visão de Saulo, não fui sua visão, mas a Visão Celestial, que num sentido espiritual é singular e possui algumas características distintivas:
1- A Visão Celestial é Irresistível
“...Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões” (v. 14b)
Desde que liderou e contemplou o martírio do diácono Estevão, Paulo já andava perturbado, e duas questões em especial turbavam seus pensamentos, a primeira questão era: porque aquele jovem morreria por aquela fé? A segunda era: Porque ele demonstrou compaixão por seus algozes? A partir dessas inquietações, o Espírito Santo de Deus, que também é o Espírito de Cristo, começou seu processo para convencer Saulo, porém, a mente Saulo era uma fortaleza de filosofias, religiosidade e orgulho, então, mesmo sendo atraído pelo poder do evangelho ele relutava agonizantemente em si mesmo e continuava se opondo e perseguindo a verdade. Saulo era um “boi religioso” lutando contra os espetos afiados dos aguilhões da soberania de Deus. O salmista escreveu: “Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio, para que se não atirem a ti.” (Sl 32:9). Indignado com a resistência de seu povo Deus fala através do profeta Isaías: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, a manjedoura do seu dono, mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende.” (Is 1:3).
Alguns crentes estão feridos e vivem em um constante vazio existencial por saberem em seu íntimo qual a vontade de Deus, porém não a fazerem. Deus vê tal comportamento como uma verdadeira irracionalidade, pois resistir ao chamado de Deus é prolongar conscientemente o sofrimento e a angústia. Quanto mais Saulo lutava contra a verdade, que é Cristo, mais ele sofria interiormente, assim, Jesus estava dizendo: “Para você é cada vez pior se debater para fugir do caminho que eu lhe determinei”. A chamada de Deus é irresistível. Moisés não pôde resistir (Êx 3-4), O fazendeiro Amós não pôde resistir (Am 7:14-15), Jeremias não pôde resistir (Jr 1:4-9; 20:7-9).
Em suma, enquanto triunfamos em nossas realizações pessoais e em nossos próprios projetos, somos espiritualmente frustrados e derrotados, mas, quando nos deixamos vencer pela vontade de Deus triunfaremos. Precisamos ser derrotados por Deus em nosso “eu” e parar de tentar resistir à Visão Celestial.
2- A Visão Celestial é Singular
“...Eu sou Jesus...” (v. 15b)
A visão celestial não divide sua grandeza com nada e com ninguém. “Eu Sou” revela a singularidade do Ser Divino. Foi assim que Deus se revelou a Moisés, como o “Eu Sou o que Sou”. A verdadeira visão celestial revela a imparidade de Deus como Àquele que É tudo o que precisamos. O teólogo contemporâneo alemão Paul Tillit diz: “Deus não existe, Deus é”, com isso ele quer dizer que a existência é um aspecto filosófico muito limitado para definir o Ser de Deus. Em sua escrita original, quando Deus disse à Moisés: “Eu sou o que sou”, ele estava dizendo literalmente: “Eu sou o que você precisar que eu seja”, assim, os nomes de Deus revelam seu caráter e sua obra. Jeová Rafá, o Senhor que sará; Jeová Jireh, o Senhor proverá; Jeová Shalom, o Senhor é nossa Paz; Jeová Raáh, o Senhor é nosso Guia; Jeová Tsidikenu, o Senhor é nossa Vitória. Deus jamais ostentou um nome que o definisse, até que se humanizou na pessoa de seu Filho, então, toda a essência da identidade divina compactou-se em um único nome: JESUS. Sua obediência, humildade e renunciar lhe legaram um nome acima de todos os nomes, e é diante desse nome que todos se sujeitarão (Fl 2:5-11). Jesus se revelou como o grande “Eu Sou”, especialmente no Evangelho segundo o apóstolo João.
Jesus Cristo é singular. Ele declarou: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6:48); “Eu sou a luz do mundo” (); “Eu sou a porta” (Jo 10:7); “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10:11); “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11:25)“Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14:6).
A verdadeira Visão Celestial exalta a singularidade de Cristo como Salvador. Em sua pregação o apóstolo Pedro declarou: “E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” (At 4:12). Não há salvação em Buda; não há salvação em Confúcio; não há salvação em Maomé.
A verdadeira Visão Celestial exalta a singularidade de Cristo como Mediador. Paulo já convertido escreveu ao jovem pastor Timóteo: “Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem.” (I Tm 2:5). Maria não pode interceder por nós, nenhum apóstolo pode interceder por nós, os santos que morreram não podem interceder por nós. A voz que se revela na verdadeira Visão Celestial não diz “Eu sou Moisés”, nem “Eu sou Elias”, nem “Eu sou Maria”, nem “Eu sou Estevão”; a voz da Visão Celestial disse: EU SOU JESUS. A Visão Celestial é singular.
3- A Visão Celestial tem Propósito
“...te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha.” (v. 16a)
Muitos neste século afirmam terem recebido revelações e visões celestiais, porém, estas pseudo-visões celestiais se mostram absolutamente sem nenhum propósito relevante ou nobre. Algumas dessas visões parecem somente exaltar o visionário e torná-lo alguém maior do que realmente é. É difícil acreditar em pessoas que vão ao céu ou ao inferno em arrebatamentos de sentido, e quando voltam ficam ricos e famosos ao produzirem CD`s e DVD`s de sua “experiência metafísica”.
A Visão Celestial tem propósito, e não é o de produzir “magastars do cristianismo”, seu propósito é claro: estabelecer ministros e testemunhas. Em sua escrita original, ministro significa “servo” e testemunha significa “mártir”, assim, a concepção moderna de ministros do evangelho, de glamour e status cai por terra diante do verdadeiro propósito da Visão Celestial que é levantar homens que estejam dispostos a servir o próximo e morrer pela causa de Cristo. Se a nossa visão diz respeito ao nosso sucesso ou às nossas realizações pessoais, então ela pode ser tudo, menos celestial.
Jesus apareceu para Saulo, para que ele renunciasse seus projetos pessoais pelo Reino, para servir e morrer.
4- A Visão Celestial é Progressiva
“...das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda.” (v. 16b)
Nós somos limitados. A mente humana não tem a capacidade de absorver a totalidade da revelação divina, por isso, Deus se revela a nós gradualmente, num relacionamento progressivo.
Se Deus revelasse todo o projeto da carreira ministerial de Paulo, sua ansiedade colérica o faria sucumbir. É por isso que “em parte conhecemos e em parte profetizamos” (); profetizamos o que conhecemos agora, e profetizaremos o que conheceremos amanhã.
Precisamos não somente descobrir o que somos em Cristo, mas o que Cristo é em nós, e para tanto, somos submetidos por Deus a um processo de transformação gradual efetuado pelo Espírito de Cristo; Paulo escreve: “Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo, como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” (I Co 3:18).
O grande mistério da justiça que provém de Deus somente nos é revelado, também através de um processo, pois a justiça do tipo humana é totalmente desprezível para Deus em relação à graça manifestada na cruz (Is 64:6), e a verdadeira justiça é revelada gradualmente pela fé. “Porque nele [em Jesus] se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.” (Rm 1:17). Porque o caminho do justo “é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4:18).
Abraão recebeu a Visão Celestial que o comissionou para o plano de Deus (Gn 12:1-3), depois, recebeu mais detalhes da Visão (Gn 15:1-12), porém, se precipitou e atropelou o plano perfeito (Gn 16:1-4).
Deus se revelou a nós no início da caminhada, mas o restante do projeto ele revela no caminho, é por isso que não podemos soltar a mão Dele. Muitos recebem a visão um dia, mas se enveredam por caminhos alternativos e pessoais, por isso perdem o foco e perecem. Precisamos perseverar na Visão do início, para que possamos receber novas instruções quando Ele assim desejar. O conhecimento de Deus não é um evento, e sim uma construção. “Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor...” (Os 6:3a).
Paulo recebeu outras revelações, mas permaneceu na primeira Visão. Perseveremos na primeira Visão, pois novas revelações estão por vir. Aleluia!
5- A Visão Celestial é Libertadora
“...te envio, para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás à Deus.” (v. 18)
Saulo era um escravo de sua religiosidade, um cativo de sua própria intelectualidade estéril; em seu zelo sem entendimento pela “verdade” ele foi aprisionado por um terrível vazio que o assolava, mas a Visão Celestial o libertou. A Visão Celestial nos liberta da incerteza existencial e do medo da eternidade, assim, o primeiro a ser liberto pela Visão Celestial é o visionário. Porém a abrangência do caráter libertador da Visão não é apenas pessoal. Deus nos dá a Visão Celestial para nos tornarmos libertadores.
A Visão Celestial nos comissiona a ir e libertar. “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios...” (Mt 10:8a).
O mundo está sob a opressão do Inimigo, e a Igreja está credenciada pela Visão Celestial para libertar a humanidade cativa (Mc 16:17; Lc 10:19).
Satanás cegou o entendimento dos homens que não crêem, para que a luz do evangelho lhes não resplandeça (II Co 4:3-4), mas a Visão Celestial do Evangelho tem poder para libertar (Rm 1:16).
A Visão Celestial fez de Paulo um poderoso libertador, e isto transformou a cidade grega de Filipos (At 16:16-40).
A Visão Celestial que Deus nos deu libertará nossas mentes, nossas famílias, nossos amigos...
A Visão Celestial é libertadora.
Em uma geração marcada por pseudo-revelações gnósticas, precisamos receber de Deus e conhecer a Visão Celestial. Todos nós precisamos da Visão Celestial.
ESBOÇO DO SERMÃO:
MARCAS DISTINTIVAS DA VISÃO CELESTIAL
Conferencista Enéas Ribeiro
Atos 26:14-19
“...não fui desobediente à visão celestial.”
Introdução
Não é um devaneio mental ou utopia, ou seja, é produto de uma espiritualidade madura;
Não é uma construção filosófica ou teológica humana, ou seja, é uma revelação de origem divina;
Não é produto de uma megalomania egoísta, ou seja, é a revelação dos propósitos divinos que glorificam o Seu Nome.
A visão celestial é o “divisor de águas” em sua vida.
A visão celestial é a revelação do rumo de seu destino.
A visão celestial é a chamada divina para sua vida.
1- A VISÃO CELESTIAL É IRRESISTÍVEL
“...Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.” (v. 14b)
i- Para Moisés foi irresistível (Êx 3-4)
ii- Para Amós foi irresistível (Am 7:14-15)
iii- Para Jeremias foi irresistível (Jr 1:4-9; 20:7-9)
iv- O grande Saulo perdeu...
2- A VISÃO CELESTIAL É SINGULAR
“...Eu sou Jesus...” (v. 15b)
i- A singularidade do Ser Divino (Êx 3:14)
ii- A singularidade de Cristo como Salvador (At 4:12)
iii- A singularidade de Cristo como Mediador (I Tm 2:5)
iv- JESUS assumiu o lugar do legalismo farisaico de Paulo...
3- A VISÃO CELESTIAL TEM PROPÓSITO
“...te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha...” (v. 16a)
i- Tem o propósito de estabelecer ministros (I Co 4:1)
ii- Tem o propósito de estabelecer testemunhas (At 1:8)
iii- Paulo, de influente e opressor para escravo e mártir...
iv- Paulo, muitas visões, mas uma só Visão.
4- A VISÃO CELESTIAL É PROGRESSIVA
“...das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda.” (v. 16b)
i- A revelação progressiva a Abraão (Gn 12:1-9)
ii- A imagem de Cristo de glória em glória (II Co 3:18)
iii- A justiça de Deus de fé em fé (Rm 1:17)
iv- O caminho do justo de brilho em brilho (Pv 4:18)
5- A VISÃO CELESTIAL É LIBERTADORA
“...te envio, para lhes abrires os olhos e das trevas os converteres à luz e do poder de Satanás à Deus...” (v. 18)
i- Das trevas para a luz...
ii- Do poder de Satanás à Deus...
Paulo foi liberto para se tornar um libertador
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