quinta-feira, 8 de setembro de 2011

AOS QUE SE GLORIAM EM SEUS ANTECEDENTES NOBRES

                              
 JUSTIFICATIVA

Recentemente deixei um status no faceboock que causou certa polêmica para com alguns colegas de ministério que não compreenderam meu posicionamento, minha declaração foi a seguinte: “Não é sábio um ministro se gloriar de sua nobre árvore genealogia, pois se isso fosse razoável, Lúcifer poderia se gloriar de sua genealogia angelical; Deus não se impressiona com nossos antecedentes ou nossa ascendência, mas espera que com sua graça construamos um legado para nossa descendência.
Entendi que esse seria um tema bastante interessante para instigar nosso pensamento teológico, e fico feliz por poder debater temas tão contundentes sempre à luz da Graça Divina e da comunhão fraterna entre irmãos. Sei que meus colegas se sentirão enriquecidos pela leitura desse pequeno texto proposto em forma de postagem. Deus em Cristo os abençoe.

                               INTRODUÇÃO
  
Em um primeiro momento quero fornecer argumentos respaldando a importância de se considerar uma ascendência nobre, e o dever de honrá-la e ser grato a Deus por ela; em um segundo momento preciso também argumentar sobre a dispensabilidade desse aspecto no que tange à vocação divina em Cristo Jesus.

SEIS ARGUMENTOS À FAVOR DE SE HONRAR A GENEALOGIA

1º ARGUMENTO PRÓ HONRAR A ASCENDÊNCIA: Abraão, Izaque e Jacó.
Certamente não podemos negar a nobreza da linhagem patriarcal judaica, tendo Abraão como fundamento histórico dessa linhagem. Deus, honrando a semente que Ele mesmo plantou, se apresenta na narrativa bíblica como o Deus de Abrão, o Deus de Izaque e o Deus de Jacó; e foi da tribo de Judá, filho de Jacó que foi gerado Jesus Cristo, o Messias e Salvador.

2º ARGUMENTO PRÓ HONRAR A ASCENDÊNCIA: A Linhagem Levítica.
Se a ascendência não tivesse sua importância honrosa no prisma divino, Deus não teria instituído dentre os filhos de Jacó uma tribo de sacerdotes, a de Levi, que se perpetuou como detentores do cajado sumo-sacerdotal Aarão, mas essa linhagem de sumosacerdotes foi encerrada por ocasião do “julgamento” de Jesus no Sinédrio, quando o sumo-sacerdote vigente Caifás, desacatando a lei rasgou suas vestes (Levítico 21:10; Mateus 26:65) transferindo assim, sem saber, seu sacerdócio à Jesus Cristo o Eterno Sumo-Sacerdote. Mas até então, Deus honrou a genealogia levítica.
   
3º ARGUMENTO PRÓ HONRAR A ASCENDÊNCIA: A Linhagem de Lúcifer
Mesmo em estado permanente e irreversível de Queda, Satanás ainda é, de alguma, forma “respeitado” por sua antiga hierarquia angelical, e isso é um princípio divino. Deus ordenou aos anjos que, a despeito de pelejarem contra aquele que se rebelou, o honrassem por sua natureza angélica. Miguel é um arcanjo de alta patente nas miríades celestiais, mas ainda assim “não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda.” (Judas 9). Lúcifer não tem de que se gloriar, mesmo porque ele desonrou sua própria natureza, mas essa natureza deve ser respeitada pelos anjos e pelos homens (Judas 8).

4º ARGUMENTO PRÓ HONRAR A ASCENDÊNCIA: A Raíz de Jessé.
Certamente, Deus fez uma perpétua aliança com a casa de Jessé, pai de Davi, e o nome Davi se referência real na concepção judaica histórica; o trono do reino de Israel jamais foi chamado trono de Israel, mas o trono de Davi. À partir do reino davídico a linhagem do rei Davi jamais se apartou desse trono, o qual está sob a profecia de messiânica de restauração, quando o Cristo se assentará sobre ele e governará de Jerusalém, não somente Israel, mas todas as nações da terra. É irônico e ao mesmo tempo poético dizer que o primeiro a “enxergar” e honrar a ascendência real de Jesus foi um cego (Marcos 10:47), e isso lhe proporcionou plena salvação da parte de Deus (Marcos 10:52).

5º ARGUMENTO PRÓ HONRAR A ASCENDÊNCIA: O Legado Sangrento dos Mártires
Não seria justo desfrutarmos hoje desse tempo de “aceitação” da Igreja e desprezar a memória daqueles que foram martirizados por sua fé em Jesus Cristo. O sangue de nossos irmãos crentes até hoje clamam desde o pó do Coliseu de Roma e de outras partes do mundo onde cristãos foram severamente perseguidos e mortos por não negarem sua fé. Devemos honrar a história desses santos e encontrar neles, além do próprio Senhor Jesus Cristo (I Coríntios 11:1) um referencial e paradigma de fé genuína e perseverança. Desmerecer essa história é fazer descaso do sangue do diácono Estevão, o primeiro mártir cristão, e esquecer até mesmo do precioso Sangue de Jesus que nos redimiu.

6º ARGUMENTO PRÓ HONRAR A ASCENDÊNCIA: A Sucessão Apostólica
Os Concílios Eclesiásticos decidiram por resoluções quase unânimes e direção do Espírito Santo que governa a Igreja historicamente por sua providência (Atos 15:28), que a tradição e doutrina apostólica seria transmitida aos bispos que por sua vez estariam incumbidos de protegê-la dos assédios heréticos, e que a história e o legado dos apóstolos e bispos deveriam ser reverenciados pela Igreja. Devemos honrar esse legado apostólico e sua posteridade como guardiães da Doutrina Cristã como exposta nas Escrituras Sagradas, a Bíblia. Devemos honrar nossas lideranças e a história por eles já construída.



SETE ARGUMENTOS CONTRA O GLORIAR-SE NA GENEALOGIA

1º ARGUMENTO CONTRA GLORIAR-SE NA ASCENDÊNCIA: A Linhagem Gentílica
Nós, que não somos judeus, não temos do que nos gloriar no que tange à nossa ascendência histórica, pois em nossa árvore genealógica encontraremos paganismo, imoralidade e rebelião contra o Deus Verdadeiro. Somos filhos de sumérios, babilônicos, persas e gregos. Somos gentios, e muitas vezes desprezamos a história do povo escolhido (os judeus), para exaltar nossa história recente, simplesmente porque recebemos o Messias. Paulo nos exorta: “Não te glories contra os ramos” (Romanos 11:18). Antes do advento de Cristo estavamos extraviados, separados, mergulhados na lama do pecado, fora da comunhão com Deus, destituídos das promessas dEle. Não temos quinhão na salvação de nossas almas, não entramos com nada, na verdade, nós entramos com o Pecado e Jesus Cristo, um judeu, entrou com a Salvação. Nossa árvore milenar é podre, mas Deus nos arrancou dessa árvore, nós, galhos secos, e nos enxertou na oliveira verdadeira, Jesus Cristo (Romanos 11:17). Glória, só a Deus!

2º ARGUMENTO CONTRA GLORIAR-SE NA ASCENDÊNCIA: Melquisedeque
                Surge diante de Abrão um personagem místico, na verdade até enigmático; ele recebe os dízimos de Abrão e o abençoa, exercendo todo o ofício de um sacerdote. A questão é que a linhagem sacerdotal de Levi estava à três gerações de ter início, mas este Melquisedeque aparece como uma prefiguração cristológica e assume o sacerdócio do Deus vivo mesmo não tendo uma ascendência sacerdotal, na verdade a Bíblia é mais clara quanto a isso: “sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas, sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre. ” (Hebreus 7:3) Note que a longevidade e prosperidade de um ministério não diz respeito a uma genealogia caros leitores. A ênfase dessa verdade reside no fato de que a honra de Deus foi dada a alguém “sem história” (Hebreus 7:6). Glória, só a Deus!

3º ARGUMENTO CONTRA GLORIAR-SE NA ASCENDÊNCIA: A Vocação de Gideão
Em um tempo em que Israel era assolada pelos midianitas, Deus se proveu de um herói, um valente, mas este, não foi escolhido em casa real, em escola de profetas, ou em casa sacerdotal, mas sim no campo trabalhando, e trabalhando duro, malhando trigo no lagar. Quando o anjo do Senhor veio à Gideão para vocacioná-lo, sua alegação não poderia ser mais sugestiva: “...Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu, o menor da casa do meu pai” (Juízes 6:15). Glória, só a Deus!

4º ARGUMENTO CONTRA GLORIAR-SE NA ASCENDÊNCIA: O Matuto Amós
                Em tempo de trevas e corrupção, Deus em sua soberania levanta os mais improváveis para um ministério profético. Sim, Ele poderia escolher um rico, um nobre, um intelectual, ou alguém com uma frondosa árvore genealógica cheia de ícones reverenciáveis; mas Deus escolhe um Amós, que ao ser confrontado e questionado em seu ministério vocifera: “...Eu não era profeta, nem filho de profeta, mas boieiro e cultivador de sicômoros. Mas o Senhor me tirou de após o gado e o Senhor me disse: Vai e profetiza ao meu povo Israel.” (Amós 7:14-15). Glória, só a Deus!

5º ARGUMENTO CONTRA GLORIAR-SE NA ASCENDÊNCIA: O Sacerdote João Batista
                Pasme, o sumo-sacerdote de Israel nos tempos de Jesus não deveria ser Anás ou caifás (Lucas 3:2), o herdeiro legítimo desse ofício preferiu ouvir o chamado profético e rejeitar as pompas do sacerdócio, trocando as gorduras da oferta pelos gafanhotos e mel Sivestre, e a mitra real e Urim Tumim por pêlos de camelo e um cinturão de couro. Isso mesmo, João batista, o filho do sacerdote Zacarias, da ordem de Abias e Isabel filha de Arão (Lucas 1:5). Ele poderia reivindicar sua posição ante as manobras políticas de Anás sogro de Caifás, mas escolheu se gloriar em Deus. Glória, só a Deus! 

6º ARGUMENTO CONTRA GLORIAR-SE NA ASCENDÊNCIA: Pedras Abraâmicas
                Os líderes judeus nutriam uma falsa segurança de salvação ostentando o fato de serem filhos genealógicos ou descendentes de Abraão, assim, viviam sua “espiritualidade” de maneira hipócrita e descomprometida com Deus, ao que João Batista bradou: “não presumais de vós mesmos dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão.” (Mateus 3:9). Há muitos hoje no inferno ainda invocando sua ascendência nobre (Lucas 16:24). Glória, só a Deus!      

7º ARGUMENTO CONTRA GLORIAR-SE NA ASCENDÊNCIA: A Renúncia de Paulo
                Quero deixar que as palavras de Paulo falem por si: “Ainda que também podia confiar na carne [se gloriar]; se algum outro cuida que pode confiar na carne [se gloriar], ainda mais eu: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei fui fariseu, segundo o zelo, perseguidor da igreja; segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho [glória] reputei-o perda por Cristo. E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo.”. A glória da genealogia é esterco. Paulo só tinha um motivo de gloria-se: NA CRUZ DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. (Gálatas 6:14). Glória, só a Deus!

                               CONCLUSÃO
Muitos se gloriam de sua origem rica, outros de sua origem sábia, outros de sua origem forte, mas “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua força; não se glorie o rico nas suas riquezas. Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor...” (Jeremias 9:23-24).
    

Um comentário:

  1. Paz e graça meu querido,
    Não sei se foi a minha pessoa a que se refere ao causar polêmica, é que infelizmente existem alguns indoutos, que a ler frases aleatórias ou comentários menos históricos didáticos pedagógicos sobre alguns assuntos, saem repetindo isso como verdade absoluta, sem uma esmera e real reflexão.
    Mas parabéns pelo correto esboço dissertativo de suas convicções, deixam claro a maturidade extraída de seus conhecimentos e o profundo desejo de expor com maior retidão possível sobre o prisma de suas ideologias e ideias, refletindo o brilho das escrituras.
    Bispo Mário Alberto
    COGIC MP

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