quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A CRUZ NA LITURGIA PENTECOSTAL?


Justificativa

            Tenho observado a ignorância bíblica de uma parcela do seguimento evangélico acerca especialmente do simbolismo da cruz, que para muitos é tida como sinônimo de maldição. A cristandade evangélica aderiu como símbolo um peixe, dadas algumas questões históricas irrelevantes e teologicamente frágeis.
Dentre as igrejas históricas que fazem uso de adereços como a toga e estola sacerdotal, a gola clerical e a cruz, temos anglicanos, metodistas, além de alguns batistas e presbiterianos. Mas, e no seguimento pentecostal, existe alguma denominação histórica que adote tais paramentos? 
            Pertenço a uma denominação pentecostal histórica, aliás, a primeira igreja pentecostal oficial, a COGIC - Church Of God In Christ (Igreja de Deus em Cristo), que até onde me consta, é a única do seguimento pentecostal que conserva a beleza da espiritualidade sacramental e litúrgica, dada sua origem no metodismo e anglicanismo e dos afro-batistas. Como pastor presidente de uma das congregações COGIC no Brasil, faço uso de paramentos clericais como a toga e estola sacerdotal, a gola clerical e a cruz, especialmente na celebração da Santa Ceia do Senhor (que a despeito do que argumentem alguns teólogos liberalistas é Santa sim!).

                        Introdução
O advento da Reforma Protestante não gerou somente benefícios para a cristandade, como a livre interpretação das Escrituras; em seus primórdios a Reforma promoveu demasiada hostilidade tanto de católicos romanos para com os protestantes, como de protestantes para com os católicos romanos, assim, surgiu uma mentalidade protestante que anatematiza tudo o que diz respeito à espiritualidade e liturgia católica, porém, as grandes deformidades do catolicismo, não residem essencialmente em seus adereços ou questiúnculas externas, e sim, na natureza de sua teologia.
Logo nos primórdio da Reforma essa mencionada hostilidade protestante desencadeou uma revolta cega e sem razão contra toda e qualquer forma de simbolismo cristão, em especial a destruição de toda a arte sacra (que realmente a essa altura já era idolatrada), e a morte de milhares de inocentes em confrontos religiosos. Isso jamais foi o intuito do pacifista Martinho Lutero, que em sua concepção nunca se insurgiu ou ostentou o título de “reformador”, e jamais abandonou os aspectos litúrgicos de sua fé católica, ao contrário, procurou alinhá-las com as Escrituras.
Queremos expor aqui em poucas palavras uma apologia à espiritualidade sacramental no contexto evangélico, simplificando, queremos fazer uma defesa às denominações cuja cultura sacramental adota certos símbolos depreciados pelos protestantes radicais, porém, nossa ênfase será no simbolismo poético e profético da cruz de Cristo, e para tanto, proponho três argumentos desfavoráveis e dez argumentos favoráveis à cruz.

ARGUMENTOS DESFAVORÁVEIS À CRUZ

1-    Argumento: A CRUZ NÃO PODE SER UM SÍMBOLO ICONOCLASTA

Jamais foi plano de Nosso Senhor Jesus Cristo que o instrumento de sua morte fosse por nós venerado como um ícone divino, mas reverenciado como um símbolo histórico e sacramental. Tragicamente Satanás tem inserido na mentalidade de muitos cristãos essa iconoclastia da cruz, para tiremos nosso olhar da importância da mensagem da cruz e nos fixemos na suposta transcendência de sua imagem, assim por da adoração à cruz está o Diabo, mas por trás da reverência ao símbolo cruz, está o Espírito Santo. “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém!

2-    Argumento: A CRUZ COMO OBJETO NÃO TEM NENHUM PODER, SENÃO COMO SIMBOLISMO

A mesma iconoclastia supracitada sempre tende a atribuir poder ao inanimado, e a única fonte de poder espiritual é o Onipotente, e o poder da cruz não está no objeto e sim no seu simbolismo, pois nesta cruz foi efetuada uma eterna redenção (Hebreus 9:11-12). Nossas fontes de poder são: o Nome de Jesus (Marcos 16:17); a Palavra de Deus (Hebreus 4:12), o Espírito Santo (Atos 1:8), e o Evangelho da Cruz (Romanos 1:16).

3-    Argumento: A CRUZ ESTÁ VAZIA

Ainda nos referindo ao problema iconoclasta, estes insistem em pendurar a imagem de Cristo na cruz, e o símbolo da cruz só é válido quando esta é apresentada vazia, subentendendo que Cristo não está mais nela, mas assentado à destra da majestade nas alturas (Hebreus 1:3). Deus proíbe com veemência a fabricação de qualquer tipo de imagem de seres (Êxodo 20:4-5; Salmo 115:4-8). O que nos garante que possamos ser cheios do Espírito de Deus, é que o túmulo e a cruz de Cristo estão vazios. “Cruz vazia, crente cheio!”




ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À CRUZ

1-    Argumento: A CRUZ É A CONDIÇÃO PARA O DISCIPULADO

Ao conclamar-nos para ser seus discípulos, Jesus declarou: “...quem não toma a sua cruz e não segue após mim não é digno de mim.” (Mateus 10:38). O Senhor não espera que sejamos simplesmente “crentes”, mas que sejamos discípulos. O discípulo é aquele que imita o Mestre, é aquele que se identifica com Jesus em seu ministério, vida e morte. Tomar a cruz, obviamente não se trata de pendurá-la no pescoço, mas revela que a o símbolo da cruz revela a principal condição de Cristo para segui-lo.

2-    Argumento: A CRUZ É O SÍMBOLO DE NOSSA AUTONEGAÇÃO

Um peixe pode até revelar a natureza evangelizadora do Cristianismo, mas não revela a essência da mensagem de Cristo, a autonegação. Como dissemos, a cruz é a condição para ser discípulo de Cristo assim como a identificação com o sentimento de Cristo é a condição e o padrão a vida cristã. “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus. Mas negou-se a si mesmo...” (Filipenses 2:5-7a). A cruz simboliza isso. “...se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz...” (Marcos 8:34).

3-    Argumento: A CRUZ DE CRISTO NÃO PODE SE TORNAR VÃ

Paulo fala acerca de sua pregação: “...não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã.” (I Coríntios 1:17b). Se a cruz não pode se tornar vã é porque ela é realmente significativa e relevante. Dentre outras coisas, o que torna a cruz vã são os discursos intelectualistas e estéreis destituídos de poder do Espírito de Deus. A CRUZ é importante e deve ser exposta com poder.

4-    Argumento: O ESCÂNDALO DA CRUZ NÃO PODE SER ANIQUILADO

Sim, o evento da cruz foi um grande escândalo. Um homem justo exposto à vergonha da nudez e castigo, morto como um criminoso vil com o consentimento e endosso da religiosidade hipócrita da época, porém, esse notável escândalo se tornou uma poderosa pregação que rompeu as épocas e gerações e chegou até nós. “Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.” (I Coríntios 1:21). Onde está essa loucura? No escândalo da cruz; e o que ameaça aniquilar esse “poderoso ”escândalo? O abandono da fé e retorno às obras como meio de salvação. “Eu, porém, irmãos, se prego ainda a circuncisão, porque sou, pois, perseguido? Logo, o escândalo da cruz está aniquilado.” (Gálatas 5:11). O escândalo da cruz ratifica grandeza da graça (Efésios 2:8).

5-    Argumento: A CRUZ NÃO É MALDITA, E SIM O CRUCIFICADO

Equivocadamente alguns pregadores e ensinadores bíblicos atribuem maldição à cruz, e Bíblia jamais anatematizou a cruz. A maldição é atribuída ao crucificado: “Quando também em alguém houver pecado, digno de juízo de morte, e haja de morrer, e o pendurares no madeiro... o enterrarás no mesmo dia, porquanto o pendurado é maldito de Deus...” (Deuteronômio 21:22-23). Aqui está a loucura da pregação cristã: A Benção se fez maldição para que a maldição não estivesse mais sobre nós, senão vejamos: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro.” (Gálatas 3:13). A Santidade se fez pecado para que os pecadores fossem feitos justiça. “Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (II Coríntios 5:21).

6-    Argumento: A CRUZ É A NOSSA ÚNICA RAZÃO DE GLÓRIA PESSOAL

É redundante dizer que toda glória pessoal é vã; dada a grandeza da graça de Deus revelada na cruz, o homem não tem de que se gloriar, pois na salvação “não entramos com nada”, senão com a fé. Paulo em sua justiça pessoal e atributos religiosos poderia se gloriar de muitas coisas (Filipenses 3:4-6), mas atribui e restringiu essa glória pessoal em um único aspecto, A CRUZ: “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo.” (Gálatas 6:14). A cruz é motivo de glória, essencialmente em sua mensagem e liturgicamente em seu símbolo.

7-    Argumento: A CRUZ É SÍMBOLO DE RECONCILIAÇÃO

Como o próprio Senhor Jesus Cristo, a cruz possui essa natureza paradoxal; Jesus é vaticinado pelo profeta messiânico Isaías como O Príncipe da Paz (Isaías 9:6) e enfaticamente declarou: “Não cuideis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; porque vim por em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra. E assim, os inimigos do homem serão os seus familiares.” A cruz ao longo dos séculos caracterizou-se não poucas vezes como símbolo de guerra e divisão, o que se popularizou com o avento dos lendários cavaleiros cruzados. Mas na verdade, a cruz é o mais poderoso símbolo de reconciliação e unidade (Efésios 2:11-16).


Conclusão
            A beleza e a grandeza da cruz estão em sua natureza poética, pois aquela pesada cruz de madeira é ao mesmo tempo rude e doce, horrível e bela, desprezível e preciosa. Como já foi dito, é a natureza paradoxal de um objeto que ao longo dos anos foi alvo de injusto repúdio e demasiada veneração. A cruz é a nossa fonte de Sangue Redentor (Colossenses 1:20; 2:14). Mas em síntese, a CRUZ e não um peixe é o símbolo máximo e imutável do cristianismo bíblico, e o uso ou não desse símbolo em nossos paramentos é absolutamente irrelevante, pois a cruz é a mensagem que deve estar clara e transbordante em nossos corações. A nossa mensagem deve ser não somente Cristo, mas O CRISTO DA CRUZ “mas nós pregamos a Cristo crucificado... Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” (I Coríntios 1:23; 2:2). Deus em Cristo os abençoe. Amém.

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