Indubitavelmente, a Assembléia de Deus é, segundo o historiador eclesiástico Vinson Synan, a maior e mais conhecida “comunidade pentecostal” do mundo com 35 milhões de membros no mundo, embora, o mesmo Vinson Synan declare que hoje, a igreja de Deus em Cristo é a maior denominação pentecostal existente e a igreja que mais cresce. A diferença está nas terminologias aplicadas a ambos os seguimentos: A Assembléia de Deus é a maior como “comunidade pentecostal” e a Igreja de Deus em Cristo é a maior como “denominação pentecostal” histórica. Comunidades Pentecostais possuem inúmeras ramificações dissidentes, mas uma denominação possui uma unidade eclesiástica legitimamente episcopal, ou seja, embora a AD como denominação pareça tão grande, ela está fragmentada por políticas administrativas diversas que formam blocos facciosos, já a COGIC não possui essa pluralidade administrativa e de lideranças (digo isso como ministro que já pertenceu à AD por 30 anos, e hoje pertence à COGIC). Uma das grandes diferenças entre estas poderosas Igrejas Pentecostais, é que a AD tem suas raízes no movimento da Fé Apostólica de Charles Parham e a história da COGIC remonta os avivamentos da santidade (Holiness) de meados do século XIX.
Como ministro formado pela querida Assembléia de Deus, comemorei no ano passado com centenas de milhares de irmãos assembleianos no Brasil, celebrando o seu “centenário”. Porém, hoje, como ministro reconhecido pela COGIC – Church Of God In Christ (Igreja de Deus em Cristo), e acima de tudo como estudioso e modesto historiador pentecostal, devo trazer à lumi alguns fatos históricos que têm sido negligentemente omitidos pela liderança e pelos historiadores dessa amada comunidade.
À bem da verdade, a AD como denominação foi estabelecida em 1918, pois desde 1911, vigorava o nome comum no Movimento Pentecostal nos Estados Unidos, Missão da Fé Apostólica. A liderança da AD no Brasil, embora trabalhando independente, acompanhava as mudanças ocorridas no movimento americano.
Foi em 1914 no concílio de Hot Springs, que aproximadamente trezentos pastores brancos da Igreja de Deus em Cristo se reuniram para estabelecer sua nova denominação predominantemente branca. O motivo? A severa segregação racial norte-americana. O nome da nova denominação? Assembléia de Deus. Foi exatamente nesse ano (1914) que surgiu a cogitação do nome que inspirou o mesmo nome no Brasil. Esses trezentos pastores brancos foram todos ordenados e autorizados pelo Bispo negro Charles Harrison Mason, fundador e Bispo Geral da Igreja de Deus em Cristo; naquele início de século, a Igreja de Deus em Cristo era a única denominação oficial, portanto a única que poderia ordenar e licenciar ministros para pregar e abrir igrejas legalmente. Isso era interessante para os ministros da época, tanto negros, como espânicos e brancos, muitos deles, após conseguir suas licenças e credenciais, não se sentiram a vontade para serem liderados por bispos negros e abriram suas próprias denominações.
Mesmo assim, o Bispo C.H. Mason, além de ministrar constantemente nas convenções da nova igreja Assembléia de Deus, ajudou a financiar missionários da mesma. Aliás, dentre o grupo que despediu com certos recursos a nobre dupla de missionários, Daniel Berg e Gunnar Vingren, estava o Bispo Mason.
A exposição desses importantíssimos detalhes históricos tem um único intuito: Reconhecer a importância histórica da COGIC como a verdadeira mãe histórica da AD e promover a unidade fraternal entre estas duas queridas igrejas, ao menos no Brasil.
Ao me referir no tema desta postagem à “dívida histórica dos assembleianos”, não reivindico nenhum outro débito senão o do reconhecimento no mínimo honorífico. Deus alçou a Assembléia de Deus e a Igreja de Deus em Cristo como as maiores e mais influentes denominações pentecostais do planeta, e se reconhecermos mutua e reciprocamente este poderoso legado histórico, poderemos, não somente nos gloriarmos de uma história centenária, mas estabelecer juntos o modelo doutrinário que temos conservado desde a Rua Azuza 312, para fornecer às novas denominações este padrão, contribuindo assim, para a inibição dos ventos de doutrinas oriundos das novas vertentes pós-pentecostais.
Embora nos Estados Unidos a COGIC (6 milhões) seja duas vezes maior do que a AD (3 milhões), no Brasil a COGIC começou sua ascensão nos últimos três anos, especialmente através do crescimento explosivo da musicalidade afro-americana por aqui. Mas a história mundial de sucesso e avivamento de ambas as denominações, deve ser um motivo para sua união, não como instituições, mas como partes cruciais do corpo de Cristo em nossos dias.
Parabéns minha amada Assembléia de Deus, pela comemoração em 2011 de seu centenário no Brasil. Honramos a liderança pioneira e visionária dos ungidos missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren; honramos os joelhos calejados das irmãs do Círculo de Oração; honramos aos líderes assembleianos que conservam seu legado doutrinário, moral e litúrgico; em fim, como um pequeno representante da Igreja de Deus em Cristo em nosso país, quero honrar a Igreja que, por trinta anos me infundiu um legado de oração e santidade, além de me formar como ministro (ver página Pastor Enéas).
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