Embora o advento da “dispensação do pentecostes” seja neotestamentário, o protótipo da pregação pentecostal já se evidenciava no ministério de alguns profetas da Antiga Aliança, faremos menção de quatro: (1)Jeremias, (2)Ezequiel, (3)Elias e (4)João Batista.
Jeremias, o profeta, teve profunda e significante influência na história da nação de Israel, mesmo com seu temperamento melancólico, sua personalidade era extremamente forte e sua conduta e postura diante da palavra de Deus era a mais séria possível. Jeremias era oriundo da cidade de Anatote em Jerusalém, e seu pai Ilquias era sacerdote, assim, Jeremias fora criado e educado sob forte influência religiosa e espiritual, aliás, Jeremias por ser de linhagem sacerdotal, deveria ter seguido legalmente este ofício, mas Deus tinha para ele outros planos mais elevados. Realmente parece paradoxal apresentar Jeremias como “protótipo” de pregador pentecostal, dada a sua retração e timidez, mas este é um exemplo clássico de que o ímpeto e a veemência da pregação pentecostal não são atributos exclusivos dos coléricos e sangüíneos. Assim como muitos servos de Deus que não possuem eloqüência natural, Jeremias sentia-se incapaz de pregar a poderosa e dura mensagem de Jeová (Jr 1:6), mas essa crise na auto-estima já não era novidade na história dos grandes ícones proféticos de Israel (Êx 4:10-12).
As profundas experiências carismáticas de Ezequiel legaram a ele um lugar de destaque na galeria dos grandes profetas de Israel. Não se pode negar que Ezequiel fora um poderoso pregador da palavra de Deus, aliás, por quarenta e nove vezes em seu livro aparece a frase: “Veio a mim a palavra do Senhor”. A vocação “pentecostal” de Ezequiel é evidenciada quando ele relata pela primeira vez: “Então, entrou em mim o Espírito, quando falava comigo, e me pôs em pé, e ouvi o que me falava.” (Ez 2:2) Note que o Espírito Santo (1)entrou nele, (2)levantou-o, e (3) o fez ouvir a palavra de Deus. São experiências tipicamente pentecostais.
Não podemos deixar de fora dessa lista preliminar o profeta do fogo, Elias. Seu idealismo e sua veemência colocaram Elias no mesmo patamar de importância de Moisés, Elias é popularmente conhecido como o “profeta do fogo”, em seu sermão no monte Carmelo (I Rs 18:21-24) encontramos elementos predominantemente pentecostais: 1- Uma mensagem que confronta a indecisão (v. 21); 2- Uma mensagem que expõe o sacrifício expiatório (v. 23a); 3- Uma mensagem que promove o fogo divino (v. 23b); 4- Uma mensagem que desafia a fé e a conduta do povo (v. 24).
Embora a narrativa de sua vida e ministério esteja em o Novo Testamento, João Batista foi o último profeta do Antigo Testamento, aliás, no A.T. existem menções proféticas apontando para ele como “anjo” (Ml 3:1) e “voz do que clama no deserto” (Is 40:3). João Batista foi aquele que preparou o caminho do Senhor; na antiguidade quando os grandes reis conquistadores vinham estabelecer seu governo sobre uma nação havia um atalaia, que coordenava o aplainamento das estradas por onde passaria o rei. João Batista preparou o caminho para a manifestação do Rei dos reis, Jesus, o Cristo. Note as credenciais pentecostais de João Batista:
(1) Era um pregador “...apareceu João Batista pregando...” (Mt 3:1).
Profetas são invariavelmente pregadores da palavra de Deus, porém no quesito pregação João era especialmente dotado de veemência e autoridade, Jesus chegou a compará-lo com uma cana agitada pelo vento (Mt 11:7).
(2) Não era ostentador “...veste de pêlos de camelo e um cinto de couro...e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre.” (Mt 3:4)
A origem dos ministros pentecostais sempre esteve ligada à simplicidade, seja na conduta, seja na mensagem. A teologia da prosperidade é um ramo estragado do pentecostalismo norte-americano que impregnou a cristandade evangélica. O verdadeiro pregador pentecostal não é adepto da pobreza, mas também não ostenta riqueza indevida como muitos tele-evangelistas e “mega-pregadores” da atualidade.
(3) Sua abordagem era versátil “E assim admoestando-os, muitas outras coisas também anunciava ao povo.” (Lc 3:18)
Temos assistido um tempo de ministérios restringidos por “estilos e tópicos”, há pregadores somente de cura, ou somente de prosperidade, ou somente de família, ou só de libertação. Embora a mensagem pentecostal possua distintivos bíblicos muito claros (como veremos mais à frente), a marca do pregador pentecostal é a versatilidade de sua mensagem, sempre apontando para a Pessoa de Jesus Cristo e conclamando para o despertamento pessoal. O pregador pentecostal não escolhe temas segundo o seu coração, ele prega o que está no coração de Deus.
(4) Era um poderoso exortador “...arrependei-vos...” (Mt 3:2; 7:9)
Desde seus primórdios a mensagem pentecostal caracterizou-se por seu cunho exortativo, pregadores pentecostais não oferecem bênçãos divinas sem fornecer os critérios divinos. O pregador pentecostal não se importa em fazer as pessoas se sentirem bem consigo mesmas, ao contrário, procura levar as pessoas à introspecção de seu estado pecaminoso e ao arrependimento. As palavras da mensagem pentecostal devem ser como setas incandescentes na consciência fria e cauterizada dos homens.
(5) Sua mensagem possuía o elemento escatológico “...toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo.” (Mt 3:10)
Um dos aspectos mais peculiares da mensagem pentecostal é a insistência em preparar as pessoas para a eternidade seja por ocasião da morte ou do arrebatamento da Igreja. O pregador pentecostal não deve omitir em época nenhuma em seu ministério a pregação sobre as últimas coisas, os últimos dias, o princípio de dores, o rapto da Igreja, a Grande Tribulação, o Retorno de Cristo, o Juízo...
(6) Pregava o batismo no Espírito Santo “...mas aquele que vem após mim, é mais poderoso do que eu; eu não sou digno de levar as suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.” (Mt 3:11)
Por fim, obviamente o pregador pentecostal tem como cerne de sua mensagem e ministério a Pessoa do Espírito Santo, seu caráter, seu poder, seu papel e suas operações. O pregador pentecostal não pode passar muito tempo sem falar de uma das dádivas mais maravilhosas de Jesus Cristo em nós, o batismo no Espírito Santo. Pela omissão dessa mensagem por parte de muitos ministros, há um contingente considerável de pentecostais nominais nas igrejas, ou seja, que pertencem a uma denominação pentecostal, mas sequer sabem algo sobre esse batismo. A pregação pentecostal deve ser completa, e o pregador pentecostal não pode desviar seu foco para os apelos teológicos de nosso tempo.
Ainda falando da origem bíblica da pregação pentecostal, porque não citar um personagem já do Novo Testamento, que embora não tivesse recebido a experiência pentecostal propriamente dita, possuía as marcas de um típico pregador pentecostal, estou me referindo à Apólo. Vejamos sete características: “E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apólo, natural de Alexandria, varão eloqüente e poderoso nas Escrituras. Este era instruído no caminho do Senhor; e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João. Ele começou a falar ousadamente...” (At 18:24-26a).
(1) Natural de Alexandria.
Sendo cidadão de Alexandria, Apólo certamente tinha acesso e familiaridade com a literatura de sua época, afinal, em Alexandria estava a maior biblioteca de sua época. É imprescindível que um pregador seja dado à leitura, aliás, os primeiros pregadores “leigos” de John Wesley eram constantemente exortados por ele a ler muitos e bons livros ou abandonar seu ministério.
(2) Eloqüente.
Poucas coisas são tão “magnéticas” quanto um discurso feito com eloqüência. Há quem diga que a eloqüência é um dom natural restrito a poucos, porém, tenho visto inúmeros casos de pessoas absolutamente introvertidas e tímidas, após serem tocadas pelo poder do Espírito Santo, se tornarem eloqüentes pregadores; essa é a minha experiência pessoal, um ex-gago, agora pregador.
(3) Poderoso nas Escrituras.
Não é impossível vermos bons pregadores com pouco conhecimento bíblico, mas os mesmos estão destituídos do poder mais criativo e impactante do universo, o poder da Palavra de Deus. A palavra de Deus põe o Espírito Santo em movimento (Gn 1:1-3), a palavra de Deus é a única coisa que está acima do próprio Deus (Sl 138:2b-VRC). O advento do pentecostalismo trouxe à luz a revelação bíblica sobre o poder de Deus, e este poder está ligado às Escrituras. “...Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.” (Mt 22:29). Ninguém pode se dizer poderoso só no Espírito, pois a Palavra é Espírito (Jo 6:63). O poder da pregação está nas Escrituras, do contrário, pregaríamos textos do Corão e veríamos os sinais, mas o Senhor Jesus não confirmará outra coisa senão sua palavra. “E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém!” (Mc 16:20).
(4) Instruído no caminho do Senhor.
Lamentavelmente estamos vivenciando os tempos de apostasia vaticinados pelo apóstolo Paulo (I Tm 4:2) e o verdadeiro caminho do Senhor tem sido substituído nas pregações modernas, por caminhos alternativos de “baixo custo”. Como pregadores do evangelho, devemos conhecer o caminho do Senhor proposto especialmente no sermão do Monte (Mt 5-7), e conduzirmos as pessoas nesse caminho, e não nas fórmulas dogmáticas de uma religião institucionalizada. O pregador pentecostal é o pregador do fim, e sua mensagem é a pregação do Reino (Mt 24:14).
(5) Fervoroso de espírito.
Poucas coisas são tão deprimentes quanto um pregador apático ou frio. Seria redundante dizer que o fervor espiritual deve ser a marca de cada crente pentecostal, especialmente a pregação. É preciso estar inflamado pela verdade do evangelho, inflamado pela causa do Reino, inflamado pelo amor de Deus. A palavra “fervoroso” aqui é zeo (grego) e significa “zelo ardente” ou “emoção” Nosso culto é racional (Rm 12:1), mas deve conter emoção. A pregação da palavra é um ministério, ou serviço, assim, “não sejais vagarosos no cuidado, sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor.” (Rm 12:11).
(6) Falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor.
Já tive o desprazer de ouvir pregações e ensinos tão destituídos de graça e de conteúdo espiritual, que as ilustrações e tópicos eram extraídos de tudo, desde jogos de matérias de jornal, futebol, filmes, e até novelas; não havia poder, não havia realidade, somente informação e cultura. Já ouvi também mensagens sobre sexo, e sei que muitas pessoas gostam disso, mas eu lhes pergunto: sexo diz respeito às coisas do Senhor ou as nossas coisas? O pregador pentecostal deve ser havido em ensinar as coisas do Senhor com toda dedicação e insistência, a preocupação excessiva em variar a mensagem pode ser danosa. “...Não me aborreço de escrever-vos as mesmas coisas, e é segurança para vós.” (Fl 3:1).
(7) Começou a falar ousadamente.
O Espírito de Deus capacita sobrenaturalmente o homem à falar a palavra de Deus, sem exitação, sem timidez, e o pregador pentecostal é especialmente dotado de ousadia divina na exposição do evangelho. Devemos lembrar sempre as palavras de Jesus: “Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso pai é que fala em vós.” (Mt 10:20). A palavra “ousadia” é parrhesia (grego) e significa “elocução sem reservas”, “liberdade de expressão”, “com franqueza”, “coragem alegre”. O pregador pentecostal deve sempre se renovar espiritualmente através da oração, e em sua oração deve estar essa petição: “...concede aos teus servos que falem com toda ousadia a tua palavra...” (At 4:29-30)