domingo, 30 de outubro de 2011

A PREGAÇÃO NA IGREJA DE DEUS EM CRISTO



Salvas as exceções, todos nós temos uma concepção de cunho cultural sobre a pregação pentecostal histórica, ou seja, aquela prática de oratória marcada por um fervor e dinamismo característicos. O advento do neopentecostalismo parece ter “elitizado” a mentalidade homilética de nossa geração, reputando o pregadores barulhentos como retrógrados e emocionalistas.
Que imagens lhe vêm à mente quando ouve a frase pregação pentecostal? Eu ouço um som, como de um vento veemente e impetuoso, que enche todo o auditório. A eletricidade crepita no ar e desenvolve-se em um crescendo ascendente de fogo. Envia um tremor pelos braços e pernas daqueles que estão se equilibrando na ponta do assento, com as faces extasiadas pelas palavras inspiradas do pregador. O pregador? Ele está transpirando abundantemente pelo esforço de pregar, com os cabelos e a gravata em desalinho, o rosto alternadamente esbraseando-se e retorcendo-se, as palavras disparando da boca tão rápidas quando possíveis de serem pronunciadas. Há um fogo ardendo em seus olhos, um reflexo do fervor pentecostal encravado nele pelo Espírito Santo. As palavras do pregador são divinamente inspiradas, fáceis de entender, poderosas no contexto. Têm o poder de atirar uma flecha que atinge em cheio o coração do pecador até que este se dobre em agonia, clamando pelo perdão divino. Isso é pregação pentecostal. (texto de Ernest J. Moem).
O texto acima reflete muito bem o modelo clássico de pregador e pregação pentecostal, e cremos que as características desse modelo não podem ser substituídas pelo formalismo de “pregadores pentecostais” demasiadamente intelectualizados que trocaram os joelhos pelos diplomas. Extinguir este modelo de pregação em nome de uma contextualização temporal e cultural é literalmente apagar a chama do Espírito.

Há, porém, uma denominação pentecostal histórica (aliás, a 1ª denominação pentecostal do mundo) que conserva esta singularidade da pregação pentecostal clássica como era no início do século XX no Movimento Holiness e na Missão da Fé Apostólica; me refiro à COGIC (Church Of God In Christ) Igreja de Deus em Cristo, a Igreja da Santidade.
Um pregador típico da COGIC é a “criatura mais eletrizante” que existe. Estas são algumas características oratórias de um genuíno pregador COGIC:

·         SERMÃO ESPONTÂNEO E NÃO TÃO DEPENDENTE DE ESBOÇO
Isto não significa que o pregador COGIC não segue uma linha fundamental de raciocínio, ou que despreze a elaboração prévia de seu sermão, ele simplesmente é mais dependente do Espírito Santo do que de seu esboço (Mt 10:20).

·        VEEMÊNCIA PROFÉTICA NA APRESENTAÇÃO DE VERDADES ETERNAS
O vociferar vibrante da voz do pregador COGIC ocorre no ápice de exortações proféticas à audiência, isto está ligado à sua eloqüência quase poética que confronta a religiosidade e as motivações das pessoas.

·        SENSIBILIDADE À MANIFESTAÇÃO DA PALAVRA DE CIÊNCIA
Não é raro o pregador COGIC em algum momento de sua prédica ministrar em revelação situações particulares dos ouvintes, coletiva ou individualmente. Os dons do Espírito Santo fluem muito comumente.

·        MOVIMENTAÇÃO CORPORAL E FACIAL EXPRESSIVA COERENTE COM AS VERDADES
APRESENTADAS
O pregador COGIC tende a ser dramático em sua ministração, isso, porém, não como uma encenação vazia e hipócrita, mas como uma manifestação cultural de sua expressão da verdade, ou seja, ele prega assim porque ele é assim.

·        APELO AO ALTAR EM RESPOSTA À MENSAGEM APRESENTADA E ORAÇÃO DE FÉ
O pregador COGIC como um evangélico clássico, não despreza uma decisão e posicionamento do ouvinte diante da verdade exposta; ele não pregará sobre cura sem conclamar os enfermos para o altar, não pregará sobre libertação sem conclamar os oprimidos, não pregará sobre salvação e arrependimento sem conclamar os perdidos.

·        A MUSICALIDADE NA ORATÓRIA DOS PREGADORES DO PENTECOSTALISMO AFRO-AMERICANO (Ef 5:19)
Sendo uma igreja tradicionalmente pentecostal é muito comum encontrarmos na Igreja de Deus em Cristo pregadores que são de terceira ou até mesmo quarta geração na igreja, e, por sua vez, aprenderam e desenvolveram seu estilo de pregação, vendo seus pais e pastores desde criança pregarem uma mensagem viva e fervorosa.
Ainda no Avivamento da Rua Azusa era comum o Espírito Santo guiar o líder do culto para informar um irmão, segundos antes, que era ele quem devia trazer o sermão. O que depois do derramar do Espírito Santo, tornou-se em, além de atividade sagrada, um estilo de arte.
O fervor vem sem dúvidas, da vida do Espírito que fora derramada sobre o pregador, mas a melodia vem certamente da influência da escravidão, da musicalidade particular dos negros, o que se tornou um estilo não somente na Igreja de Deus em Cristo – apesar de ser uma das mais tradicionais desde seus dias pós avivamento – mas em muitas outras igrejas e denominações pentecostais norte-americanas, dentre elas algumas brancas.
A pregação na Igreja de Deus em Cristo é vista como a parte principal do culto, quando Deus fala. O pregador prepara seu sermão, mas já está claro desde o início da mensagem que o fim dela pode exigir o que a história chama de chamada-e-resposta nas igrejas de origem negra. O pregador não somente prega para o público, como o faz juntamente com ele. Ouvir palavras de apoio da congregação, tais como, “prega!”, “sim, sim”, “ajuda, Senhor”, dentre muitos outros, não são de se admirar.
Concernente à melodia, o pregador da Igreja de Deus em Cristo, muitas vezes até sem o devido conhecimento musical, trás uma bagagem cultural que de forma natural o leva a ser repetitivo em frases de efeito, construído sobre o hemistíquio (cada metade de um verso, separada pela cesura, normalmente associado a versos longos) sua rítmica de pregação, usando o que musicalmente se conhece como escala pentatônica, que é a base para grande parte dos estilos musicais de origem negra, como o blues e o gospel.  O pregador constrói sua mensagem com introdução, exemplos, interação com o público, e geralmente, uma conclusão com que chamam de whoop  (brado, grito, exclamação), que geralmente se faz acompanhar de melodias construídas com a escala pentatônica, acompanhado por um bom organista.

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