I Coríntios 12:4-7
Introdução Essa postagem é um estudo fundamental (básico) sobre os dons de verbalização do Espírito Santo de Deus. Como uma Igreja genuína e classicamente pentecostal (COGIC), e no conceito teológico pejorativo, “ultra-pentecostal” manifestamos em nossa realidade litúrgica e ministerial a totalidade dos dons divinos. E considerando a dimensão do Pentecostalismo em nossos dias, não podemos estar ignorantes nem tão pouco omissos quanto às manifestações sobrenaturais do Espírito na realidade prática verbal da Igreja. Precisamos vasculhar com mais propriedade a vigência desses carismas, e para tanto, se faz necessário que os dividamos em três categorias: (1) DONS DE PODER (dons de cura; operação de maravilhas e fé); (2) DONS DE REVELAÇÃO (palavra de conhecimento; palavra de sabedoria e discernimento de espíritos); e (3) DONS DE VERBALIZAÇÃO.
Abordaremos este último: os DONS DE VERBALIZAÇÃO, que podem ser definidos como: expressões verbais lingüísticas inspiradas pelo Espírito de Deus, que podem ser inteligíveis ou ininteligíveis; uma fala sobrenatural. Três dons fazem parte dessa categoria: (1) VARIEDADE DE LÍNGUAS; (2) INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS; e (3) PROFECIA. Vamos adiante...
VARIEDADE DE LÍNGUAS
A este Dom podemos definir como: habilidade sobrenatural de verbalizar pelo Espírito, línguas misteriosas ou idiomas não aprendidos.
A Promessa no Antigo Testamento (Isaías 28:11-12; I Coríntios 14:21-22).
“Pelo que, por lábios estranhos e por outra língua, falará a este povo, ao qual disse: Este é o descanso, dai descanso ao cansado; e este é o refrigério; mas não quiseram ouvir.”
Ao profetizar ao obstinado povo de Israel sobre uma fonte sobrenatural de refrigério, nem mesmo o profeta Isaías sabia ao certo do que estava falando. Na verdade, isso somente veio a ser compreendido setecentos anos mais tarde com o advento da descida do Espírito em pentecostes, e mais detalhadamente na exposição doutrinária do apóstolo Paulo. Fazendo um “link” histórico e exegético entre as duas passagens supracitadas, entendemos que as línguas são, dentre outros predicativos, uma forma de refrigério espiritual, e isso coaduna com as palavras do apóstolo Pedro: “Arrependei-vos, pois, e converte-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor.” (Atos 3:19).
O Cumprimento no Novo Testamento (Atos 2:1-13).
O fenômeno glossolálico (línguas) marcou de maneira notória e clássica a descida definitiva do Espírito Santo sobre os redimidos por Cristo. “E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.” (v. 4). Aqui começava a se cumprir esta nova dispensação onde as línguas dariam outro rumo a realidade do povo de Deus.
No ministério do apóstolo Paulo (I Coríntios 14:18).
No texto em questão, Paulo rendia graças a Deus por falar mais línguas que todos os crentes da igreja de Corinto. Não podemos afirmar exegeticamente se esta afirmação de Paulo trata de sua constância no falar ou de sua variedade lingüística. Mesmo em se tratando de uma exortação de Paulo a não orar somente em línguas, acredito e difundo por vias práticas que Paulo falava de sua vida devocional intensa. Ele orava muito em línguas.
No ministério da igreja (I Coríntios 14:5a).
Seria necessária outra postagem somente para falar dos benefícios das línguas no ministério da Igreja, dentre estes, a prática devocional da oração em línguas constitui-se um poderosos veículo de condução ao crescimento espiritual, aprimoramento da vocação ministerial e manifestação dos demais dons. Evidentemente existe um critério escriturístico para regular as línguas, especialmente no culto público, mas a recomendação paulina é enfática para a Igreja, confrontando os cessacionistas: “...não proibais falar em línguas.” (I Coríntios 14:39b).
INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS
Definimos assim: habilidade sobrenatural de interpretar por impulso divino a elocução das línguas desconhecidas por suas faculdades mentais, não é tradução.
A ênfase dada em “não é tradução” serve justamente para esclarecer algumas idéias errôneas acerca desse dom, pois ao contrario do que alguns imaginam, uma elocução em línguas pode conter apenas uma frase e sua interpretação um monólogo, ou uma mensagem em línguas extensa para uma interpretação curta. A interpretação de línguas não é uma tradução frase por frase, mas é um tipo “download espiritual” no qual o Espírito de Deus dá a entender (Atos 11:28) o significado da elocução verbalizada.
Um culto racional e inteligível (Romanos 12:1; I Coríntios 14:19)
A realidade diária do culto cristão jamais pode tornar-se uma “Babel de línguas”, pois como escreveu Paulo: “Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem línguas estranhas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão, porventura, que estais loucos?” (I Coríntios 14:23). Evidentemente isso não restringe a manifestação glossolálica no culto público, desde que não haja “indoutos ou infieis”. Sabemos perfeitamente que na vivência pentecostal prática, nossos cultos são esporadicamente “interrompidos” pelo derramar do Espírito renovando sua Igreja (Atos 10:44). Conservar a racionalidade do culto não é aderir a algum tipo de racionalismo frio, mas é estar cônscio de sua própria expressão de adoração a Deus, e estar pronto também para possíveis manifestações extáticas (êxtase espiritual), desde que as mesmas não sejam mero produto da cultura secular ou da carnalidade humana. O culto é racional não pode perder o elemento emoção, e esse equilíbrio é a característica da igreja pentecostal autêntica. Os picos de nossa emoção espiritual devem ser regidos pela inteligência dde nossa razão regenerada, assim, “...o que fala língua estranha, ore para que a possa interpretar.” (I Coríntios 14:13).
Uma forma de profecia (I Coríntios 14:5c)
“E eu quero que todos vós faleis línguas estranhas; mas muito mais que profetizeis, porque o que profetiza é maior do que o que fala línguas estranhas, a não ser que também interprete, para que a igreja receba edificação.”
O dom de Interpretação de Línguas manifestado torna-se uma configuração de Profecia. A Interpretação produz o mesmo efeito edificador da Profecia, pois traz com sigo a revelação do pensamento divino expressado muitas vezes nas línguas estranhas. Não foram raras as vezes em que pude interpretar minhas próprias línguas estranhas, para mim mesmo, e também para a igreja; da mesma sorte por muitas vezes pude interpretar a mensagem de Deus nas línguas de outros irmãos. Jamais traduzi, sempre interpretei pelo Espírito gerando uma palavra profética.
PROFECIA
Definimos assim: habilidade esporádica sobrenatural de proferir palavras inteligíveis inspiradas, impulsionadas ou vindas do próprio Deus.
A profecia é o “borbulhar” da mente Divina através da boca humana.
Edificação, Exortação e Consolação (I Coríntios 14:3)
Segundo a doutrina apostólica paulina, esses são os três propósitos cruciais da profecia, ou seja, se alguma “palavra profética” não produziu nenhum desses aspectos, certamente não foi uma palavra profética, senão algum devaneio mental ou expressão maligna. A Profecia deve causar EDIFICAÇÃO, ou seja, crescimento do homem interior, aprimoramento do caráter cristão, consolidação do edifício espiritual. A Profecia deve promover EXORTAÇÃO, ou seja, encorajamento espiritual ao desanimado, confronto espiritual ao desajustado, despertamento espiritual ao cansado. A Profecia deve trazer CONSOLAÇÃO, ou seja, alívio ao sobrecarregado, conforto ao desesperado, alento ao prostrado. Isto é Profecia, a boca de Deus que edifica, exorta e consola.
O Aspecto Preditivo da Profecia
Embora a predição não seja o elemento singular da profecia, é sem dúvida alguma o mais extraordinário e efetivo para a militância da Igreja de Cristo, pois através dela a Igreja empreende seus projetos missionários com presciência profética das coisas que ainda virão. A Profecia diz respeito ao que foi reportando-nos à experiências do passado; a Profecia diz respeito ao que é confrontando nosso atual estado; e a Profecia diz respeito ao que será reportando-nos às demandas do futuro, e isto é a Predição Profética. Vemos a Predição no ministério de inúmeros servos de Deus na Bíblia, mas podemos destacar estes (leia as referências bíblicas):
· No ministério de Elias (II Reis 9:10; 35-37)
· No ministério de Jesus (Mateus 24)
· No ministério de Paulo (I Timóteo 4:1-5; II Timóteo 3:1-9)
Os Atos Proféticos
Ao contrário do que pensam alguns teólogos mais liberais, a ortodoxia neotestamentária, bem como o próprio Novo Testamento, respaldam a vigência dos atos profético, tão comuns na realidade espiritual israelita. Podemos definir atos proféticos assim: A expressão de um ato humano que revela um plano ou uma realidade divina. Na verdade, Atos Proféticos é um sinônimo de Sacramentos, a diferença marcante é que os Atos Proféticos não foram instituídos litúrgica e doutrinariamente como os Sacramentos (ou ordenanças), mas são impulsos ou direções específicas do Espírito Santo para agirmos de forma profética. No Ato Profético o profeta deixa de ser simplesmente o mensageiro e se torna a Mensagem. Vejamos dois exemplos no A.T. e dois no N.T.:
· No ministério de Jeremias (Jeremias 13:1-7)
O cinto de linho finíssimo comprado por Jeremias e depois enterrado às margens do Eufrates e apodrecido era uma representação profética do povo de Judá, que em seu orgulho e ostentação seria levado cativo à babilônia e ali apodreceria sua soberba. Jeremias ordenado por Deus fez um Ato Profético que confrontava o estado presente e predizia o futuro da nação.
· No ministério de Oséias (Oséias 1:2-3)
Aqui temos provavelmente o Ato Profético mais enigmático e controverso da narrativa bíblica. Também ordenado por Deus, o honrado profeta Oséias toma por esposa uma prostituta, que o trai seguidas vezes, e sempre que reconciliada com Oséias, trás como fruto de seus adultérios seus filhos bastardos. Aqui Deus mostrava como Ele se sentia em relação à nação de Israel, que o traia continuamente com outros deuses e suas gerações futuras eram sempre marcadas pela propensão à idolatria.
· No ministério de Ágabo (Atos 21:10-11)
O N.T. respalda a vigência dos Atos Proféticos, o que é revelado no ministério do profeta Ágabo, que para ilustrar o árduo destino do apóstolo Paulo em Jerusalém, se amarrou de pés e mãos para declarar que Paulo seria assim preso na cidade.
· No ministério de Jesus (a Cruz)
O maior de todos os Atos Proféticos da história foi feito por Jesus Cristo, que na cruz fez-se O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
O Conhecimento dos Tempos
Acredito que a faceta mais importante do Dom da Profecia, está relacionada ao conhecimento sobrenatural dos tempos. Deus determinou previamente tempos e dispensações nos quais seus planos eternos estão traçados, e cada um desses planos estão ligados à esses tempos. Conhecer em que tempo vivemos em nossa vida e ministério, e na era da Igreja, é crucial para não perdemos de vista o que Deus espera de nós neste momento. Dentre as tribos de Israel havia uma tribo que norteava a nação em tempos de guerra. “dos filhos de Issacar, destros na ciência dos tempos, para saberem o que Israel devia fazer, duzentos de seus chefes e todos os seus irmãos, que seguiam a sua palavra.” (I Crônicas 12:32). Já na dispensação da Igreja, Paulo, com clarividência profética conhecia seu próprio tempo. “E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé” (Romanos 13:11).
Conclusão
“Segui a caridade e procurai com zelo os dons espirituais...” (I Coríntios 14:1a)
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